sábado, 27 de dezembro de 2008
Os Cafajestes
Os Cafajestes é um clássico do chamado Cinema Novo e foi lançado em 1962. O filme dirigido por Ruy Guerra foi marcado pelo impacto do seu tema, considerado ambicioso para a época: a devassidão de dois marginais cariocas. Numa época que a censura falava alto, Ruy Guerra teve seu filme mutilado. Glauber Rocha assim definiu o filme do diretor moçambicano radicado no Brasil: "Os Cafajestes possuía certa transcedência: densidade existencial, clima de determinado universo fechado numa mise-en-scène agressivamente pessoal, apesar de todas as influências facilmente identificáveis, principalmente de Resnais e Antonioni...é histórico: a formalização...não resistindo à evolução do cineasta em busca da unificação cultural logicamente estilísítica. Insolente, corajoso, anárquico e talvez moralizante. Um cinema em bossa nova".
Os Cafajestes foi o filme de estréia de Ruy Guerra, que ficou famoso depois filmando, entre outros, Os Fuzis (que foi premiado no Festival de Berlin), Erêndira e A Ópera do Malandro.
O filme procura realizar uma crônica dos costumes da alta burguesia carioca, numa linguagem descontraída, explorando a sordidez do submundo do vício, do cotidiano de Copacabana. Foi um filme repudiado tanto pelo governo, como pela Igreja. Era tratado como uma mercadoria pornográfica.
Foi muito mutilado pelo seu produtor, Jece Valadão, que as executou sem autorização de Ruy Guerra.
Dois cafajeste, um pobre e outro rico. Jece Valadão ( que trabalho em mais de 50 filmes e produziu mais de 10) interpreta Jandir, o vigarista pobre, sujeito a todo tipo de frustração. Daniel Filho( sim, ele o conhecido diretor global), interpreta Vavá, filhinho de papai, que não se conforma em ficar sem dinheiro. Vavá arma uma grande chantagem e a vítima será seu tio, que é o maior depositante do banco de seu pai. A vítima a princípio seria a amante Leda (Norma Bengel), mas alertada por ela de que poderia tirar fotos nua que o tio de Vavá não ligaria, partem para cima de Vilma (Lucy de Carvalho), filha do milionário.
É nas praias de Cabo Frio, no entardecer, que o cenário da patifaria se arma.
Norma Bengell (ao lado), saída do teatro de revista, protagonizou o primeiro nu frontal do cinema brasileiro. A cena de quase quatro minutos em que a atriz fica nua pela areias e brinca com as ondas do mar causou polêmica. Norma fez depois mais de 70 filmes e dirigiu outros tantos. Sua atuação marcou época e presença na luta contra a discriminação da mulher.
Os Cafajestes pode hoje parecer ultrapassado, mas foi um filme que ajudou a mostrar que o cinema brasileiro tinha e tem qualidades. Era bem feito, um produto bem acabado e um cinema verdadeiramente brasileiro.
Ainda hoje vale a pena dar uma corridinha na locadora e conferir porque até hoje é um filme inesquecível.
Hora de refazermos
Por Gilberto Silva
“Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de várias maneiras; a questão é transformá-lo” - Marx
Destroçados pela avassaladora avalanche de informações, contra-informações e completamente recheados com vivas à nova ordem mundial dita bela e uma, nós -pobres mortais, nascidos em um país de natureza colonial e de herança escravista, nos entregamos (melhor seria: entregaram-nos) de corpo e alma às ditas maravilhas do neoliberalismo.
Fomos proibidos de pensar a utopia socialista. O capital patenteou nossas vidas. Não só manda na ordem econômica, como nos domina por inteiro penetrando em nossas almas e fazendo nossa consciência.
Criaram o paradigma da modernidade, onde tudo que é passado é velho, retrógrado e careta. As novas lutas não podem ascender mudanças na estrutura do poder, das relações de produção. As lutas podem existir desde que fiquem restritas a seu segmento (gênero, raça, etc e tal...). Tudo pode, desde que não avance para além do espaço doméstico.
Precisamos de uma oportunidade para refazermo-nos. Recriar nossa vontade de mudança, nosso espírito de transformação que seja síntese do ecológico, feminista, do anti-racista, que desencarne as diferenças, as opressões e as exclusões do “globalitarismo”. A queda do “socialismo real” finalizou uma luta econômica, na qual os Estados Unidos da América aparecem como os vencedores e com ela a falsa declaração do fim das ideologias e com a expansão do modelo neoliberal, que trouxe desemprego e promove uma acumulação e movimentação de capital jamais visto na história da humanidade.
Presos ao luxo e aos restos dos lixos da modernidade do capital, presos ao poder da ideologia dominante (e aí daquela voz contrária!), esmagadora, com seu arsenal político-cultural sempre à disposição para a defesa da sua ordem. O mercado é o espetáculo e a imagem da vitória de uma única via, a única que nos apregoam como verdadeira e democrática. Seremos ainda cidadão? Mas, se não somos, podemos ficar tranqüilos já há a “empresa-cidadã”. Seremos cidadão-empresa?
“Por quanto tempo ainda aqueles que estão acordados vão fazer de conta que estão dormindo?”, questionou apropriadamente Viviane Forrester em O Horror Econômico.
Somos humilhados por sermos utópicos, por acreditar na mudança, ridicularizados ao extremo e posto de lado na sociedade. Devemos renunciar aos nossos princípios e resignadamente aceitar os novos paradigmas que nos impõem? Há espaço neste mundo globalizado para soluções regionais no campo econômico? Os que não são da fé globalizada estão realmente cegos?
Publicado em:
http://www.partes.com.br/ed13/reflexao.asp
“Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de várias maneiras; a questão é transformá-lo” - Marx
Destroçados pela avassaladora avalanche de informações, contra-informações e completamente recheados com vivas à nova ordem mundial dita bela e uma, nós -pobres mortais, nascidos em um país de natureza colonial e de herança escravista, nos entregamos (melhor seria: entregaram-nos) de corpo e alma às ditas maravilhas do neoliberalismo.
Fomos proibidos de pensar a utopia socialista. O capital patenteou nossas vidas. Não só manda na ordem econômica, como nos domina por inteiro penetrando em nossas almas e fazendo nossa consciência.
Criaram o paradigma da modernidade, onde tudo que é passado é velho, retrógrado e careta. As novas lutas não podem ascender mudanças na estrutura do poder, das relações de produção. As lutas podem existir desde que fiquem restritas a seu segmento (gênero, raça, etc e tal...). Tudo pode, desde que não avance para além do espaço doméstico.
Precisamos de uma oportunidade para refazermo-nos. Recriar nossa vontade de mudança, nosso espírito de transformação que seja síntese do ecológico, feminista, do anti-racista, que desencarne as diferenças, as opressões e as exclusões do “globalitarismo”. A queda do “socialismo real” finalizou uma luta econômica, na qual os Estados Unidos da América aparecem como os vencedores e com ela a falsa declaração do fim das ideologias e com a expansão do modelo neoliberal, que trouxe desemprego e promove uma acumulação e movimentação de capital jamais visto na história da humanidade.
Presos ao luxo e aos restos dos lixos da modernidade do capital, presos ao poder da ideologia dominante (e aí daquela voz contrária!), esmagadora, com seu arsenal político-cultural sempre à disposição para a defesa da sua ordem. O mercado é o espetáculo e a imagem da vitória de uma única via, a única que nos apregoam como verdadeira e democrática. Seremos ainda cidadão? Mas, se não somos, podemos ficar tranqüilos já há a “empresa-cidadã”. Seremos cidadão-empresa?
“Por quanto tempo ainda aqueles que estão acordados vão fazer de conta que estão dormindo?”, questionou apropriadamente Viviane Forrester em O Horror Econômico.
Somos humilhados por sermos utópicos, por acreditar na mudança, ridicularizados ao extremo e posto de lado na sociedade. Devemos renunciar aos nossos princípios e resignadamente aceitar os novos paradigmas que nos impõem? Há espaço neste mundo globalizado para soluções regionais no campo econômico? Os que não são da fé globalizada estão realmente cegos?
Publicado em:
http://www.partes.com.br/ed13/reflexao.asp
Coisas do amor, do sexo, da vida (2)
Amarás o próximo?
Gilberto da Silva
É ainda poderosa a máxima bíblica "amarás ao próximo como a ti mesmo" posto que vivemos numa sociedade em que o egoísmo é muito forte. A competição, a busca pelo Belo (corpo perfeito, plásticas, dietas etc) e o impulso de destruição são condições de sobrevivência.
O egoísmo é uma forma de amor. O amor-próprio é considerado uma virtude para alguns e um vício para outros. Amar aos outros deve ser feito na mesma tonalidade que amar a si mesmo?
O amor a outro é uma forma de amar de redenção. "Assim me falou um dia o diabo:'Também Deus tem seu inferno: é o amor pelo homem'. E mais recentemente eu o ouvi dizer esta palavra:'Deus está morto; de sua compaixão pelo homem Deus morreu'." - Assim Falou Zaratustra, segunda parte. Nietzsche
Nietzche num poema escreve:
"Ama-se somente aos sofredores,
só se dá amor aos que têm fome:
presenteia antes a ti próprio, ó Zaratustra!"
É provável -não sou um estudioso e sim um bem superficial conhecedor da filosofia deste filósofo alemão, que ele queria reforçar a contradição entre o amor dos outros e o amor por si próprio. Esta interpretação deve estar inclusive na obra do Erich Fromm.
Amor visto como amar ao próximo é citando Jostein Gaader, sentir a devoção e a dedicação completa pelo outro. Creio não existir o amor pedaço, o amor que se dá aos poucos. Ou é amor ou não é.
É um fazimento, é um tornar-se amante, mas também devemos tornar-se um amante de nós mesmo. Devemos amar nosso eu para amar o outro, na mesma sintonia, na mesma diapasão.
Gilberto da Silva, jornalista e sociólogo é editor de Partes
publicado em:
http://www.partes.com.br/comportamento07.html
Gilberto da Silva
É ainda poderosa a máxima bíblica "amarás ao próximo como a ti mesmo" posto que vivemos numa sociedade em que o egoísmo é muito forte. A competição, a busca pelo Belo (corpo perfeito, plásticas, dietas etc) e o impulso de destruição são condições de sobrevivência.
O egoísmo é uma forma de amor. O amor-próprio é considerado uma virtude para alguns e um vício para outros. Amar aos outros deve ser feito na mesma tonalidade que amar a si mesmo?
O amor a outro é uma forma de amar de redenção. "Assim me falou um dia o diabo:'Também Deus tem seu inferno: é o amor pelo homem'. E mais recentemente eu o ouvi dizer esta palavra:'Deus está morto; de sua compaixão pelo homem Deus morreu'." - Assim Falou Zaratustra, segunda parte. Nietzsche
Nietzche num poema escreve:
"Ama-se somente aos sofredores,
só se dá amor aos que têm fome:
presenteia antes a ti próprio, ó Zaratustra!"
É provável -não sou um estudioso e sim um bem superficial conhecedor da filosofia deste filósofo alemão, que ele queria reforçar a contradição entre o amor dos outros e o amor por si próprio. Esta interpretação deve estar inclusive na obra do Erich Fromm.
Amor visto como amar ao próximo é citando Jostein Gaader, sentir a devoção e a dedicação completa pelo outro. Creio não existir o amor pedaço, o amor que se dá aos poucos. Ou é amor ou não é.
É um fazimento, é um tornar-se amante, mas também devemos tornar-se um amante de nós mesmo. Devemos amar nosso eu para amar o outro, na mesma sintonia, na mesma diapasão.
Gilberto da Silva, jornalista e sociólogo é editor de Partes
publicado em:
http://www.partes.com.br/comportamento07.html
De que riem os democratas?
Gilberto da Silva
Este texto é uma retomada de uma reflexão feita há dez anos, em muitos aspectos tudo permanece igual. Exceto meus cabelos - que sobraram - brancos.
As barreiras físicas - ideológicas caíram com o ruir das pedras de Berlim. Com os restos dos cascalhos germânicos, iniciou-se a guerra ideológica dada desde o seu princípio como "ganha" pelos adeptos do neo-liberalismo.
Um direto de direita
A "direita" ri e exclama. O marxismo ruiu! Mais que depressa açodados pelos ventos do Leste europeu, determinam o fim da História.
Os intelectuais a serviço dessa ideologia - se bem que com raras exceções eles concordem em se denominar pensador de direita, proclamam os vários fins: "o fim da luta de classes; o fim das tiranias: o capitalismo venceu!"
Está aberta a temporada de caça, marxistas de um lado, neo-liberais de outro (Claro, não esquecer os que não tem lado nenhum...).
Picaretas em mãos: os muros desabam. Pedra sobre pedra. Um peso e um silêncio inquietante e intranqüilo. Não há mais meio termo: seja democrata e pronto! Até ai, tudo bem.
Na realidade tem muita gente que precisa de um direto de direita. Há gosto para tudo...
Vá ser gauche na vida!
Dentro da esquerda um debate logo se inicia, pensa-se em mudanças radicais, mudar os rumos, adaptar-se ao curso social democrata da história. Quantos não esboçaram um sorriso de felicidade ao ver o "Príncipe" tornar-se presidente? Os mais" radicais" esboçam reações: "Isto é uma ofensiva da burguesia, devemos resgatar o marxismo, recuperar a tradição crítica, humanista e revolucionária de Marx." Os debates florescem, adeus… às armas e adeus aos sonhos. Temporada aberta para debates...
Criam-se partidos com a finalidade de unir a esquerda, que dividida trabalhava para reunir as forças de oposição, que dividida não elabora uma tática - ou será estratégia? - para tomar o poder. Tomar o poder? Mas que expressão mais antiquada! - exclamam os adeptos do novo.
Como uma onda no mar
A onda neo-liberal invade as praias brasileiras, encanto radical, perspectivas pós moderna. Instaura a "ansiosidade" do novo (tudo é novo, até o velho reveste-se de novo - percebem como o brasileiro, além do "jeitinho" adora o que é novo), preparam-se imagens-produtos de homens sérios e competentes (?) É impressionante elegemos um elemento que cheirava novo e exalava podridão. Novo e bonito e não feio, sujo, malvado. Afinal, já disse o Joãozinho Trinta: "pobre adora luxo, intelectual é que gosta de pobreza".
Infelizmente parece que o "bom" é ser autoritário. O Brasil é a própria expressão dessa face: nem capitalista, nem democrata, um país com a vontade de ser grande, Primeiro Mundo. Estagna-se um sonho... Perpetua-se o regime da desigualdade e da miséria, quietos, mudos, impassíveis fingimos que somos felizes.
Mas, espera aí, dirão muitos, isto é muito pessimismo: afinal um frango já pode ser repartido em muitas casas, a moeda está estável, caminhamos lentamente para a modernidade, condenamos violentamente a violência - só contra os políticos, por que nós povinho estamos sendo violentados todos os dias - , etc.
Enquanto essa massa amorfa ilude-se com dramalhões mexicanos, ou ficam pasmos ao se identificarem com "O dono do mundo" (como o texto é re-eleitura, de um re-eleitor, digo: Terra Nostra). Os ideólogos de plantão re-pensam os conceitos. Re-examinam tanto, tanto que esquecem de se examinarem a si próprio.
Reinventando
Fala-se em reinventar a política. Para quê. Por quê? Voltam as alternativas culturais: "preciso iniciar um processo pedagógico". Pedagógico para quê e quem? Fala-se em ética. Muito bem ética é fundamental. Mas que ética?
O fazer política, hoje, passa por um questionamento do modo de vida, do corpo, do tempo, das relações pessoais, etc... Enquanto estes questionamentos não são feitos, cresce no cenário internacional o racismo e a beligerância.
Como lidar com categorias tais como revolução, luta de classes... (veja: Minorias e maiorias) Revolucionar o que? Para quem? Perguntas. Perguntas... acrescentem perguntas.
Seria sustentável a contraposição entre "modernos" e "ortodoxos"? Mas se o "socialismo morreu"? escafedeu e se o "neo" e "old" liberalismo só destrói utopias e esperanças, que fazer?
Que motivo tem os totalitários para rirem, tentarem se reerguer? Força física para enfrentar a desigualdade? Há esperanças num mundo marcado pela falta de democracia, da liberdade e da VERDADE?
Mas, "se tudo que‚ sólido desmancha no ar", de que riem de os democratas? Miremos: Fujimori, massacres, violência, fome, drogas, golpes militares, eleições fraudulentas...... e uma lista interminável que cabe a você caro leitor completá-la.
Gilberto da Silva, editor de Partes, é jornalista e sociólogo
Publicado em:
http://www.partes.com.br/reflexao03.htm
Este texto é uma retomada de uma reflexão feita há dez anos, em muitos aspectos tudo permanece igual. Exceto meus cabelos - que sobraram - brancos.
As barreiras físicas - ideológicas caíram com o ruir das pedras de Berlim. Com os restos dos cascalhos germânicos, iniciou-se a guerra ideológica dada desde o seu princípio como "ganha" pelos adeptos do neo-liberalismo.
Um direto de direita
A "direita" ri e exclama. O marxismo ruiu! Mais que depressa açodados pelos ventos do Leste europeu, determinam o fim da História.
Os intelectuais a serviço dessa ideologia - se bem que com raras exceções eles concordem em se denominar pensador de direita, proclamam os vários fins: "o fim da luta de classes; o fim das tiranias: o capitalismo venceu!"
Está aberta a temporada de caça, marxistas de um lado, neo-liberais de outro (Claro, não esquecer os que não tem lado nenhum...).
Picaretas em mãos: os muros desabam. Pedra sobre pedra. Um peso e um silêncio inquietante e intranqüilo. Não há mais meio termo: seja democrata e pronto! Até ai, tudo bem.
Na realidade tem muita gente que precisa de um direto de direita. Há gosto para tudo...
Vá ser gauche na vida!
Dentro da esquerda um debate logo se inicia, pensa-se em mudanças radicais, mudar os rumos, adaptar-se ao curso social democrata da história. Quantos não esboçaram um sorriso de felicidade ao ver o "Príncipe" tornar-se presidente? Os mais" radicais" esboçam reações: "Isto é uma ofensiva da burguesia, devemos resgatar o marxismo, recuperar a tradição crítica, humanista e revolucionária de Marx." Os debates florescem, adeus… às armas e adeus aos sonhos. Temporada aberta para debates...
Criam-se partidos com a finalidade de unir a esquerda, que dividida trabalhava para reunir as forças de oposição, que dividida não elabora uma tática - ou será estratégia? - para tomar o poder. Tomar o poder? Mas que expressão mais antiquada! - exclamam os adeptos do novo.
Como uma onda no mar
A onda neo-liberal invade as praias brasileiras, encanto radical, perspectivas pós moderna. Instaura a "ansiosidade" do novo (tudo é novo, até o velho reveste-se de novo - percebem como o brasileiro, além do "jeitinho" adora o que é novo), preparam-se imagens-produtos de homens sérios e competentes (?) É impressionante elegemos um elemento que cheirava novo e exalava podridão. Novo e bonito e não feio, sujo, malvado. Afinal, já disse o Joãozinho Trinta: "pobre adora luxo, intelectual é que gosta de pobreza".
Infelizmente parece que o "bom" é ser autoritário. O Brasil é a própria expressão dessa face: nem capitalista, nem democrata, um país com a vontade de ser grande, Primeiro Mundo. Estagna-se um sonho... Perpetua-se o regime da desigualdade e da miséria, quietos, mudos, impassíveis fingimos que somos felizes.
Mas, espera aí, dirão muitos, isto é muito pessimismo: afinal um frango já pode ser repartido em muitas casas, a moeda está estável, caminhamos lentamente para a modernidade, condenamos violentamente a violência - só contra os políticos, por que nós povinho estamos sendo violentados todos os dias - , etc.
Enquanto essa massa amorfa ilude-se com dramalhões mexicanos, ou ficam pasmos ao se identificarem com "O dono do mundo" (como o texto é re-eleitura, de um re-eleitor, digo: Terra Nostra). Os ideólogos de plantão re-pensam os conceitos. Re-examinam tanto, tanto que esquecem de se examinarem a si próprio.
Reinventando
Fala-se em reinventar a política. Para quê. Por quê? Voltam as alternativas culturais: "preciso iniciar um processo pedagógico". Pedagógico para quê e quem? Fala-se em ética. Muito bem ética é fundamental. Mas que ética?
O fazer política, hoje, passa por um questionamento do modo de vida, do corpo, do tempo, das relações pessoais, etc... Enquanto estes questionamentos não são feitos, cresce no cenário internacional o racismo e a beligerância.
Como lidar com categorias tais como revolução, luta de classes... (veja: Minorias e maiorias) Revolucionar o que? Para quem? Perguntas. Perguntas... acrescentem perguntas.
Seria sustentável a contraposição entre "modernos" e "ortodoxos"? Mas se o "socialismo morreu"? escafedeu e se o "neo" e "old" liberalismo só destrói utopias e esperanças, que fazer?
Que motivo tem os totalitários para rirem, tentarem se reerguer? Força física para enfrentar a desigualdade? Há esperanças num mundo marcado pela falta de democracia, da liberdade e da VERDADE?
Mas, "se tudo que‚ sólido desmancha no ar", de que riem de os democratas? Miremos: Fujimori, massacres, violência, fome, drogas, golpes militares, eleições fraudulentas...... e uma lista interminável que cabe a você caro leitor completá-la.
Gilberto da Silva, editor de Partes, é jornalista e sociólogo
Publicado em:
http://www.partes.com.br/reflexao03.htm
O político e suas obras
Gilberto da Silva
Vejamos algumas palavras a respeito dos políticos (alguns) e de suas milagrosas obras (se é que elas realizam milagres!).
Obra é construção, trabalho, produção. Mas no vocabulário político obra é visibilidade, matéria de publicidade quase que infinita, repleta de concreticidade (a do concreto), um out-door permanente. As obras dos políticos são geralmente dotadas de superfaturamento com estilos faraônicos e imponentes. Diríamos, em alguns casos, até que repletas de negociações paralelas: UM LEILÃO AMBULANTE. Quem dá mais? Leva!
As obras legitimam o dinheiro público. Os políticos e seus gastos exorbitantes realizam a passagem espetacular do público para o privado!
E tome concreto, ferro, cimento... E tome propaganda, placas comemorativas. Viadutos, estradas, calçadas, obras inaugurais que nunca terminam. Haja cimento para tanta civilização!
O maior prazer do político obreiro é construir, reconstruir, reformar, derrubar, erguer, reerguer, mudar e transformar. É o político em construção. O político obreiro parece ser alicerçado pelas guias da corrupção, plantado e alimentado pelo sistema, que ele mesmo controla. Seremos felizes com tantas obras?
Washington Luis, ex-presidente do Brasil, o mesmo que (dizem) criou a frase "a questão social é caso de Polícia" elaborou uma obra prima do pensamento nacional: "governar é abrir estradas." Desde então nossos audazes políticos obreiros de plantão teimam em conduzir radicalmente essa máxima. "É cobrir águas", dirão alguns olhando para as águas lamacentas dos rios poluídos das cidades. A questão social - a obra social - não é obra?
A política social é invisível, não permanente, requer manutenção a todo instante. Política social não ganha eleição. São obras de ficção as implantadas na saúde e educação, você lê, olha os projetos, pensa que é verdade, real, mas é pura obras dos sonhos. A invisibilidade não ganha governos, não produz líderes, impossibilita o domínio do poder.
As obras são urnas fixas, latentes, imponentes. Para o "político obreiro", as obras não são meios, são fins. Retrato fiel de um objetivo claro: dar aparência ao real. É como o homem que só se satisfaz na vida ao ter um filho, produto do seu ser, reprodução do seu EU. Mais Narciso impossível. Um político insinuava que o oceano era sua obra, se houvesse uma construção na lua seria possível reivindicar para si a autoria. Mas ele tentou ser esperto: inventou uma obra humana, um mal sucedido clone. A obra é do homem e o bicho não come.
O político -e suas obras, matreiramente refaz milagres, transforma água em vinho, despolui rios, transforma a natureza e os bolsos, os nossos e os dele.
Ao colocar as "mãos à obras" condenam à degradação a natureza e os seres mortais.
Gilberto da Silva, editor de Partes, é jornalista e sociólogo
publicado em http://www.partes.com.br/reflexao02.html
Vejamos algumas palavras a respeito dos políticos (alguns) e de suas milagrosas obras (se é que elas realizam milagres!).
Obra é construção, trabalho, produção. Mas no vocabulário político obra é visibilidade, matéria de publicidade quase que infinita, repleta de concreticidade (a do concreto), um out-door permanente. As obras dos políticos são geralmente dotadas de superfaturamento com estilos faraônicos e imponentes. Diríamos, em alguns casos, até que repletas de negociações paralelas: UM LEILÃO AMBULANTE. Quem dá mais? Leva!
As obras legitimam o dinheiro público. Os políticos e seus gastos exorbitantes realizam a passagem espetacular do público para o privado!
E tome concreto, ferro, cimento... E tome propaganda, placas comemorativas. Viadutos, estradas, calçadas, obras inaugurais que nunca terminam. Haja cimento para tanta civilização!
O maior prazer do político obreiro é construir, reconstruir, reformar, derrubar, erguer, reerguer, mudar e transformar. É o político em construção. O político obreiro parece ser alicerçado pelas guias da corrupção, plantado e alimentado pelo sistema, que ele mesmo controla. Seremos felizes com tantas obras?
Washington Luis, ex-presidente do Brasil, o mesmo que (dizem) criou a frase "a questão social é caso de Polícia" elaborou uma obra prima do pensamento nacional: "governar é abrir estradas." Desde então nossos audazes políticos obreiros de plantão teimam em conduzir radicalmente essa máxima. "É cobrir águas", dirão alguns olhando para as águas lamacentas dos rios poluídos das cidades. A questão social - a obra social - não é obra?
A política social é invisível, não permanente, requer manutenção a todo instante. Política social não ganha eleição. São obras de ficção as implantadas na saúde e educação, você lê, olha os projetos, pensa que é verdade, real, mas é pura obras dos sonhos. A invisibilidade não ganha governos, não produz líderes, impossibilita o domínio do poder.
As obras são urnas fixas, latentes, imponentes. Para o "político obreiro", as obras não são meios, são fins. Retrato fiel de um objetivo claro: dar aparência ao real. É como o homem que só se satisfaz na vida ao ter um filho, produto do seu ser, reprodução do seu EU. Mais Narciso impossível. Um político insinuava que o oceano era sua obra, se houvesse uma construção na lua seria possível reivindicar para si a autoria. Mas ele tentou ser esperto: inventou uma obra humana, um mal sucedido clone. A obra é do homem e o bicho não come.
O político -e suas obras, matreiramente refaz milagres, transforma água em vinho, despolui rios, transforma a natureza e os bolsos, os nossos e os dele.
Ao colocar as "mãos à obras" condenam à degradação a natureza e os seres mortais.
Gilberto da Silva, editor de Partes, é jornalista e sociólogo
publicado em http://www.partes.com.br/reflexao02.html
Visitando os amigos no inferno
De uns tempos para cá passei a visitar amigos, colegas e companheiros de longa jornada, depois de um certo tempo de distanciamento e isolamento devido à imersão ao mundo do trabalho, mudanças geográficas e nova constituição familiar.
Durante este início de visitação comecei a observar algumas coisas interessantes, algumas já tinham passado pela minha cabeça, mas não tinha parado para pensar nestas questões.
A TV, a internet e todo o aparato tecnológico virtual afastou as pessoas do convívio, da prática do receber, da conversa olho no olho. Distantes, as pessoas entram em imersão acelerada, sem rumo, direto ao isolamento do corpo, enquanto sua alma vagueia pelas ondas etéreas. Pessoas que perderam o hábito de receber pessoas, tal o grau de isolamento no seu lar e no umbigo da própria família.
Bom, iniciei este processo de visitação crente que o inferno é aqui e que não está em outro lugar imaginário, em sonhos acordados. O paraíso é o lugar dos que sobrevivem a este inferno. E para chegar a este paraíso, talvez bastará uma boa dose de tolerância, honestidade e amor (em todos os sentido da palavra /amor/).
Diante destas observações passei a procurar e conversar com estes amigos. Pode ser uma tentativa de ir pagando os pecados, fazendo meu caminho para o paraíso. Voltei a apreciar um bom cafezinho quente servido em bandejas de todos os tipos ou tomados numa mesa posta com gentileza.
Quantos livros nas estantes revelando o perfil das pessoas!! Quantos CDs e DVDs ilustrando gostos, fantasias e paixões! Procuro não chegar na hora do almoço, pois tal atividade hoje é um incomodo para as mulheres e muitos homens nem se dignam a fritar um bife (ainda que meio ambientalistas eu não larguei o hábito de degustar um bom bife!). Por outro lado, as famílias pós-modernas preferem as cozinhas dos restaurantes, dos fast-food e dos bares. Cozinhar virou um transtorno... Também prefiro não ficar para o jantar, antevejo uma pizza repleta de óleo brilhando na mesa dizendo: vai logo embora, cara....
Procuro ser rápido, sinto que depois de alguns minutos os assuntos já se esgotaram, principalmente se sou convidado a assistir algum programa na televisão (neste caso, prefiro ver lixo em casa: lá eu reciclo da minha maneira)
Lembro-me bem da minha infância e os meus pais recebendo visitas sempre com um bule chamegando café "fresquinho" e uns bolinhos de fubá na mesa...
Quando questionado porque minha esposa não está na visita, digo que meu casamento não é siamês e que meus amigos não são necessariamente amigos da minha esposa e vice-versa. Digo isto de forma serena, tento ser delicado para não melindrar as esposas preocupadas com a visita de um amigo "solteiro". e não há submissão nisto: "a submissão é hipócrita" versa o biólogo Maturana.
E por falar nestas questões, deixarei para visitar minhas amigas em outra ocasião, dado a complexidade que é visitar mulheres. As casadas serão mais complicadas: como explicar aos maridos que a visita é apenas um amigo? Sempre ficará um questionamento na cabeça do sujeito. "Será que este cara já saiu com minha mulher? Está saindo? Pretende sair?"
Quando começarei a visitar amigas solteiras? Bem isto é mais complicado.... e outra história.
publicado em 15/12/2008 - www.partes.com.br
Durante este início de visitação comecei a observar algumas coisas interessantes, algumas já tinham passado pela minha cabeça, mas não tinha parado para pensar nestas questões.
A TV, a internet e todo o aparato tecnológico virtual afastou as pessoas do convívio, da prática do receber, da conversa olho no olho. Distantes, as pessoas entram em imersão acelerada, sem rumo, direto ao isolamento do corpo, enquanto sua alma vagueia pelas ondas etéreas. Pessoas que perderam o hábito de receber pessoas, tal o grau de isolamento no seu lar e no umbigo da própria família.
Bom, iniciei este processo de visitação crente que o inferno é aqui e que não está em outro lugar imaginário, em sonhos acordados. O paraíso é o lugar dos que sobrevivem a este inferno. E para chegar a este paraíso, talvez bastará uma boa dose de tolerância, honestidade e amor (em todos os sentido da palavra /amor/).
Diante destas observações passei a procurar e conversar com estes amigos. Pode ser uma tentativa de ir pagando os pecados, fazendo meu caminho para o paraíso. Voltei a apreciar um bom cafezinho quente servido em bandejas de todos os tipos ou tomados numa mesa posta com gentileza.
Quantos livros nas estantes revelando o perfil das pessoas!! Quantos CDs e DVDs ilustrando gostos, fantasias e paixões! Procuro não chegar na hora do almoço, pois tal atividade hoje é um incomodo para as mulheres e muitos homens nem se dignam a fritar um bife (ainda que meio ambientalistas eu não larguei o hábito de degustar um bom bife!). Por outro lado, as famílias pós-modernas preferem as cozinhas dos restaurantes, dos fast-food e dos bares. Cozinhar virou um transtorno... Também prefiro não ficar para o jantar, antevejo uma pizza repleta de óleo brilhando na mesa dizendo: vai logo embora, cara....
Procuro ser rápido, sinto que depois de alguns minutos os assuntos já se esgotaram, principalmente se sou convidado a assistir algum programa na televisão (neste caso, prefiro ver lixo em casa: lá eu reciclo da minha maneira)
Lembro-me bem da minha infância e os meus pais recebendo visitas sempre com um bule chamegando café "fresquinho" e uns bolinhos de fubá na mesa...
Quando questionado porque minha esposa não está na visita, digo que meu casamento não é siamês e que meus amigos não são necessariamente amigos da minha esposa e vice-versa. Digo isto de forma serena, tento ser delicado para não melindrar as esposas preocupadas com a visita de um amigo "solteiro". e não há submissão nisto: "a submissão é hipócrita" versa o biólogo Maturana.
E por falar nestas questões, deixarei para visitar minhas amigas em outra ocasião, dado a complexidade que é visitar mulheres. As casadas serão mais complicadas: como explicar aos maridos que a visita é apenas um amigo? Sempre ficará um questionamento na cabeça do sujeito. "Será que este cara já saiu com minha mulher? Está saindo? Pretende sair?"
Quando começarei a visitar amigas solteiras? Bem isto é mais complicado.... e outra história.
publicado em 15/12/2008 - www.partes.com.br
Sexo Mercadoria
Todos querem uma sociedade justa (pelo menos os mais ajuizados...) Num instante histórico em que a individualidade é a forma mais nefasta presente na sociedade, não vejo motivos para mudanças tão breve. Mas minha fé utópica permanece.
Prezam os sujeitos pelos gozos imediatos. Prezam os sujeitos pela satisfação total, mas esquecem de combinar com suas respectivas parceiras. No mundo da mercadoria, sexo é embalado à vácuo. Sexo é mercadoria: e alguns sujeitos levam isto tão à sério que arrumam mil artimanhas para ganhar dinheiro com este produto. Bom ou ruim, não é esta a questão, o problema é quando chega ao estágio doentio da mercadoria.
Na sociedade pós-moderna (e aqui compactuo com as premissas de Fredric Jameson), o corpo magro e esguio é o modelo de venda tanto para mulheres como para os homens. A imagem do corpo perfeito é moldada pelos meios de comunicação. Uma imagem tecida lentamente e que penetra em nossas almas tão sorrateiramente a ponto de não percebermos seus efeitos imediatos.
Diante da vontade das massas, vomitai, emagrecei.... Tente você viver sem essas cobranças...
A sociedade pós-moderna acredita que uma pessoa sexualmente satisfeita é uma pessoa feliz. Daí a frustração. O sexo é maravilhoso (muito bom) e devemos muito praticá-lo, mas não é a totalidade. Um dos tópicos centrais da fantasia narcísica de felicidade é a realização imediata do desejo.
Outra frustração: o tesão pelo dinheiro, pelo consumo imediato. A felicidade reside neste espaço?
publicado em 14/08/2007 - www.partes.com.br
Prezam os sujeitos pelos gozos imediatos. Prezam os sujeitos pela satisfação total, mas esquecem de combinar com suas respectivas parceiras. No mundo da mercadoria, sexo é embalado à vácuo. Sexo é mercadoria: e alguns sujeitos levam isto tão à sério que arrumam mil artimanhas para ganhar dinheiro com este produto. Bom ou ruim, não é esta a questão, o problema é quando chega ao estágio doentio da mercadoria.
Na sociedade pós-moderna (e aqui compactuo com as premissas de Fredric Jameson), o corpo magro e esguio é o modelo de venda tanto para mulheres como para os homens. A imagem do corpo perfeito é moldada pelos meios de comunicação. Uma imagem tecida lentamente e que penetra em nossas almas tão sorrateiramente a ponto de não percebermos seus efeitos imediatos.
Diante da vontade das massas, vomitai, emagrecei.... Tente você viver sem essas cobranças...
A sociedade pós-moderna acredita que uma pessoa sexualmente satisfeita é uma pessoa feliz. Daí a frustração. O sexo é maravilhoso (muito bom) e devemos muito praticá-lo, mas não é a totalidade. Um dos tópicos centrais da fantasia narcísica de felicidade é a realização imediata do desejo.
Outra frustração: o tesão pelo dinheiro, pelo consumo imediato. A felicidade reside neste espaço?
publicado em 14/08/2007 - www.partes.com.br
Subscrever:
Mensagens (Atom)