"A preciosa vantagem que o espetáculo tirou dessa marginalização da história, de já ter condenado toda a história recente a passar à clandestinidade, e de ter conseguido fazer esquecer muito frequentemente o espírito histórico na sociedade, é antes de tudo cobrir a sua própria história: o próprio movimento da sua recente conquista do mundo. O seu poder aparece já familiar, como se tivesse estado lá desde sempre. Qualquer usurpador tenta fazer esquecer que acabou de chegar."
(Guy Debord in Comentários sobre a sociedade do espetáculo)
A
recente repercussão na mídia e na opinião pública (existe?) sobre a foto em que
o ex-líder operário, ex-presidente da República Luis Inácio Lula da Silva
aparece feliz e cortês junto ao seu afilhado político, Fernando Haddad e o
ex-governador de São Paulo, ex-prefeito da cidade de São Paulo, deputado
federal e procurado pela Interpol Paulo Salim Maluf é o sintoma da realidade
política que vivemos hoje, não apenas no Brasil, mas em
muitos países mundo afora.
Por mais que tenha causado repulsa numa parcela
significativa da população, por mais que não venha ter efeitos tão devastadores
na sequencia da eleição, vale algumas considerações a partir do fato. Não é de
hoje que uma parcela significativa da elite intelectual e politica
(as duas não necessariamente se confundem) buscam deixar os
rastros do passado saudosos de uma vida nova, ávidos em querer inventar um
futuro somente olhando para o presente, esquecendo a longa narrativa
e estreitando-se pelos caminhos miúdos das narrativas rápidas, passageiras
e frágeis.
Em sua busca frenética por novos caminhos rejeitam e
ignoram o velho, o arcaico, rejeitam em todos os aspectos os conceitos teóricos
dos séculos passados e em muitos casos até do mês passado. O desastre é o
passado e nele não voltaremos gritam pelos cantos do mundo. E ponto final.
Final? Não.... procuram quase que autopoeticamente se renovar, mas como? Eis alguns
conflitos.
Luiza Erundina, no episódio da foto, tomou uma atitude
coerente com seu passado político baseado principalmente na repercussão que o
caso teve nas mídias sociais. Lula foi comer feijoada com o Maluf,
mas não foi comer rabada com a Erundina. Mas há críticas permeando a polêmica. Alguns podem afirmar
que se ela fosse prefeita hoje poderia estaria tomando as mesmas atitudes que
os petistas assumem em seus governos. Mas
a ex-prefeita só recebeu uma condenação na vida pública, em 1999, ao ordenar a confecção de cartazes para avisar os usuários de ônibus
da capital que os coletivos não circulariam nos dias 14
e 15 de março em apoio à greve geral convocada pela CUT e a CGT, como protesto
contra o “Plano Verão.
Governabilidade, tempo de TV, o que importa é a vitória e
jogar para o ralo os anos malditos do tucanato, afirmam muitos
"companheiros". Ainda sobre a repercussão da desistência de
ser vice de Haddad, Erundina teve apoio de muitos tucanos e antipetistas ávidos
para atacar o ninho vermelho. Mas não foram poucos os petistas descontentes e
nem a esquerda sem partido que atacaram.
Vejamos a opinião síntese do caso feita pelo deputado Edinho Silva, presidente estadual do PT:
".... quanta hipocrisia nas reflexões sobre a aliança do PT com o PP na Capital paulista. Respeito a decisão de foro íntimo (firmada em uma leitura política, mas que expressa a sua visão pessoal da conjuntura e da correlação de forças na construção de um projeto de cidade, estado e país) da deputada Luiza Erundina. Mas não posso me calar diante das opiniões provenientes do fato.
Várias candidaturas disputaram o apoio do PP. Nenhuma crítica histórica/moral foi feita, mas quando o PT consegue ampliar a sua aliança, aumentando a sua capacidade de diálogo com o eleitorado, todo o rigor da coerência é tirado das gavetas e armários. Por que a mesma crítica não foi feita antes? O PT não é o único partido que tem lideranças que lutaram pela democratização do Brasil. Vale aqui relembrar que quando da aproximação do PSD à pré-candidatura de Haddad presenciamos o mesmo fenômeno. A quem interessa a limitação política do PT?" (veja artigo em: http://pt-sp.org.br/artigo/?p=Opini%E3o&acao=vernoticia&id=13630)
O que fica do caso fotográfico é a síntese da politica tupiniquim capitalista. Se antes poderia ser "tudo pelo
social", agora "tudo pelo capital" ou "tudo pela
governabilidade". A foto é apenas a expressão dessa realidade em que
muitos ao criticarem apenas corroboram, ao não propor ideias e projetos
diferentes. O medo também ataca as cabeças pensantes...
A foto não é uma foto apenas e sim a concretização da
realidade empobrecida. Esta é a totalidade atual. Não podemos esquecer que
ceifado do enquadramento, mas presente no cenário pictórico, estava Wadih Mutran, vereador da
cidade de São Paulo há mais de 25 anos. Diz o mito que ele nunca perdeu uma
eleição: todo candidato à prefeito que ele apoiou, venceu.
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