Quem vê a velhinha graciosa e saltitante passear pelas ruas de Copacabana, faceira, leve e feliz nunca imagina seu passado. Ela é como um presente perpétuo. Na Glória de antigamente, a velhinha era imbatível com seu charme circulando pelas ruas do Russel, do Catete, pela ladeira da Glória e na Praça Nossa Senhora da Glória.
Não tinha páreo para ninguém tanta beleza deixava o mocinho de queixo caído. Aquele corpinho graúdo, carioca, bronzeada pelo sol a perambular pelas ruas invoca pensamentos duvidosos nas mentes dos rapazes apaixonados. Ela não era fraca não! Teve muitos homens aos seus pés. Do bonitão tipo saradão da praia do Leblon ao feio e charmoso de qualquer canto da cidade todos se rendiam aos seus encantos.
Quando jovem e faceira arrumava um tempo para ir à praia, vestia-se num biquíni preto para quebrar as ondas e os olhos da masculinidade praiana e quiçá de meninas apaixonadas... já estávamos em tempos modernos e por intermédio de algumas fontes soube do amor de meninas por ela. Mas, sem preconceito, escolhera o gênero masculino.
Hoje quando eu a vejo na Avenida Atlântica caminhando para manter a forma esboço um sorriso de felicidade. Há se todas as mulheres fossem iguais a ela! Eu penso na ampliação da felicidade masculina.
Quando caia na noite varava a madrugada e adorava terminá-la namorando a lua e o sol chegando quase ao mesmo tempo.
Certa vez resolveu soltar a voz na areia da Barra. Pessoas estupefatas com o vozeirão que saia daquele mignon meigo e delicado. A galera parou para ouvi-la, os urubus assustados correram. A voz fluía em pedidos de bis.
E quando, delicada, resolveu dançar em praça pública! Rebuliço. Alvoroço. O namorado não entendia nada, atônico e perplexo. Foi o fim. Foi o fim mesmo. E ela detestava miolo mole e quadril pesado. Tinha que dançar, beber e amar muito.
Faceira caminha atualmente pelas ruas da cidade a contar histórias para seus netinhos e ensinando a viver plenamente com alegria e trabalho. Sim, pois mesmo com tanta beleza ela não quis vida fácil. Foi à luta, montou seu negócio, vendia imóveis, vendia seguros e automóveis. Sempre com um largo sorriso no rosto a ensinar para os mais novos o encanto da vida.
Quem gosta desta cena é um antigo namorado dos tempos da Glória que a vê pacientemente sentada num banco da praça e logo em seguida andando de mãos dadas com as crianças cantando mansamente uma canção bonita.
A velhinha esperta namorou muito. Casou, separou, casou, separou, casou, separou, parou. Sim, teve uma hora que cansou e “só namorou” e “só namora” até hoje.